Dirigente escolar entra em greve de fome para “lutar pela escola pública”

 Dirigente escolar entra em greve de fome para ″lutar pela escola pública″ (dn.pt)

Após vários meses marcados por vigílias, manifestações, greves e petições, o professor Luís Sottomaior Braga diz ser necessário passar “ao nível seguinte” para que os protestos surtam efeito. Por isso, decidiu dar início a uma greve de fome a partir de segunda-feira, tratando-se, explica ao DN, de “um mecanismo da desobediência civil”. “E, neste contexto, tudo o que me acontecer é responsabilidade do primeiro-ministro, do ministro da Educação e do Presidente da República”, afirma.

O subdiretor do Agrupamento de Escolas da Abelheira relembra a luta dos professores com início em setembro do ano passado. Desde então, conta, já muitas iniciativas foram levadas a cabo, mas “tem-se começado a ter a consciência de que as negociações estão bloqueadas por culpa do governo”. “A análise que faço em termos pessoais é que aquilo que já fizemos, as manifestações no Porto e em Lisboa, várias vigílias, concentrações, petições, acampamentos, idas a Bruxelas levaram a pequenas vitórias, mas as maiores reivindicações, as que estão na base da contestação, não se resolveram. Este é um dos maiores movimentos sociais que o país já viu e o governo fecha os olhos ao que se passa e acredita que os professores se vão cansar. É essa a estratégia, mas os professores não estão cansados de lutar”, sustenta.

O também especialista em Gestão e Administração escolar acusa o governo de lançar “uma série de ideias falsas, enquanto tenta deixar passar a enxurrada”. Diz, por isso, ser necessário passar “para outro patamar”, não restando outra alternativa que não a da greve de fome. “Podíamos evoluir para um modelo de contestação como está a acontecer em França, o que é inaceitável para os professores, pois respeitamos o Estado de Direito ou escolher a desobediência civil”, refere. Segundo Luís Sottomaior Braga, “a greve de fome imputa responsabilidades aos outros”. E esses outros, explica, são os governantes, com especial incidência no Presidente da República, que pode “não promulgar o decreto do novo modelo de concurso”.”O Presidente da República disse que queria um acordo até à Páscoa, o que não aconteceu. Vai promulgar um decreto-lei, numa questão central, com as negociações sem rumo, e sem acordo? Os professores estão diariamente a enviar emails para a Presidência da República questionando isso mesmo. Marcelo Rebelo de Sousa pode vetar esse decreto-lei”, alerta. O dirigente escolar afirma que um dos objetivos da greve de fome é pressionar “o Presidente da República para que assuma uma política dura e fazer o que disse que ia fazer” e para “sinalizar que o governo tem de mostrar mais boa-fé negocial”. Mas estes são apenas dois dos objetivos do protesto que será feito junto a uma escola pública de Viana do Castelo (ainda a definir). O protesto “radical” tem como base a “luta pela escola pública”. “Não lutamos até agora só pela melhoria dos salários, mas sim muito pela escola pública de qualidade, que passa por problemas de avaliação, o excesso de burocracia, o Projeto Maia que está a destruir o funcionamento das escolas, a falta de recursos para a inclusão, entre muitos outros problemas. São questões de direito fundamental e, como cidadão, devo potenciar essa luta”, sublinha.

“Não queremos ser reformados pobres”

O problema das quotas para subida de escalão na carreira docente e o do congelamento de mais de seis anos de tempo de serviço levará, segundo Luís Sottomaior Braga, a que “muitos professores se transformarão em reformados pobres”. “Com a greve de fome estou também a lutar pela minha reforma e a dos meus colegas, pois vamos ser reformados pobres. Se nós não fizermos nada, vamos ter reformas miseráveis e, daqui a 20 anos, quero poder dizer, se for um reformado pobre, que lutei de todas as formas para que isso não acontecesse”, vinca.

E é com tristeza e revolta que o dirigente escolar entra em greve de fome, “um sacrifício pessoal”, enquadrado numa luta coletiva que tem marcado este ano letivo.

Professor de História e Geografia de Portugal do 2.º ciclo, há 28 anos, Luís Sottomaior Braga assumiu cargos de direção em escolas ao longo da carreira. Atualmente, é subdiretor do Agrupamento de Escolas da Abelheira, Viana do Castelo, uma escola TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária). Especializou-se também em Gestão e Administração Pública e tem o curso de Alta Direção em Administração Pública (CADAP), do Instituto Nacional de Administração (INA), bem como uma especialização em Políticas Públicas.

Assumidamente de esquerda, foi militante do PS até 2005, sendo hoje militante do BE. É um ativista dos direitos humanos e já foi voluntário de diversas associações, nomeadamente dos bombeiros. No currículo de “lutas” está ainda a sua intervenção na Assembleia da República, em 2020, como membro da Iniciativa de Cidadãos para a Recuperação do Tempo de Serviço. Filho de uma professora e com vários docentes na família, diz ter escolhido a carreira “por convicção”. Antes de ser professor, Luís Braga foi locutor e repórter de rádio (Rádio Alto Minho e na Rádio Renascença), livreiro, gestor cultural e formador.

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