Professores Esperam Grande Adesão a Greve de Amanhã

Professores esperam grande adesão a greve de amanhã, num ″cartão vermelho″ a Costa (dn.pt)

“É insustentável para o país”. Foi desta forma que o primeiro-ministro, António Costa, em entrevista à CNN Portugal (dia 2), voltou a deixar clara a recusa do Governo sobre a recuperação integral do tempo de serviço congelado aos professores. A “nega” aconteceu quatro dias antes da greve de amanhã e, segundo sindicatos e diretores escolares, “incendiou” ainda mais a classe docente. Os funcionários da Administração Pública também se juntam aos protestos.

Júlia Azevedo, presidente do Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE) acredita numa “grande adesão à greve, com escolas a encerrar de Norte a Sul do país para mostrar um cartão vermelho ao primeiro-ministro”. “Será a resposta dos professores às declarações de António Costa. Declarações que não são condizentes com a vontade dos professores, da sociedade civil e de vários partidos da oposição”, sublinha a sindicalista. Júlia Azevedo diz mesmo que a recusa do primeiro-ministro se trata apenas de “má vontade” e classifica-a como “uma birra”. Uma postura “incendiária”, que serviu para “mobilizar ainda mais professores para a greve”.

“Todo o país se tem mobilizado pelo justo direito a uma carreira digna e que valha a pena. Neste momento, temos professores a ganhar muito mal, colocados a 300 ou 400 quilómetros de casa e os vencimentos mantêm-se iguais. Estão completamente desesperados por melhores condições e ajudas de custo e não vão baixar os braços”, antecipa.

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Júlia Azevedo relembra que a classe docente conta com 150 mil professores e que é “o maior grupo de licenciados do país”, tendo manifestado, desde dezembro de 2022, uma grande “resiliência” na luta por melhores condições. “É a esperança que nos move, se não houvesse esperança, não haveria luta, mas a esperança só se concretiza quando há uma grande força, uma grande luta por parte da classe, pois nada vem de mão beijada”, adianta. A presidente do SIPE salienta o “apoio do PSD e de outros partidos da oposição” e quer ver já “contemplado, no próximo orçamento de Estado, o descongelamento do tempo de serviço de seis anos, seis meses e 23 dias”.

“Paz não irá voltar às escolas”

Apesar do “cansaço por parte dos professores, numa luta com efeitos residuais”, Arlindo Ferreira, diretor do Agrupamento de Escolas Cego do Maio, Póvoa de Varzim, e autor do blogue “ArLindo” (um dos mais lidos no setor da Educação), também antevê muitos constrangimentos nas escolas, devido à greve de amanhã. “O primeiro- ministro mostrou que não tem qualquer interesse em resolver os problemas dos professores, o que o deixa isolado perante as propostas de toda a oposição para a devolução do tempo de serviço, que é um direito dos professores. Neste sentido, a paz não irá voltar às escolas e será mais um ano de contestação dos professores”, considera.

Sobre as declarações de António Costa, Arlindo Ferreira diz que “o Governo sabe que quando deixar de ser Governo haverá devolução do tempo de serviço aos professores”. Por isso, salienta, “o futuro ficará sempre marcado pela intransigência do PS em negociar com os docentes e caso essa recuperação seja feita por outro governo nunca mais o PS terá uma vida fácil junto dos professores”.

Para o diretor do Agrupamento de Escolas Cego do Maio, a escola pública está a “implodir aos poucos”, tornando-se “cada vez mais difícil recompor as feridas abertas por todo o mal que se tem feito, com políticas erradas e de facilitismo”.

Diretores pedem “Pacto na Educação”

É necessário um “Pacto na Educação” para resolver os problemas da escola pública. Quem o diz é Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP). O responsável entende que a recusa da recuperação integral do tempo de serviço é “um grave problema nacional”, que “necessitará de mais que uma legislatura para ser resolvido”. “O assunto relativo à negociação da recuperação dos 6 anos, 6 meses e 23 dias, período de tempo congelado aos professores do continente, obriga a consensualização entre os principais partidos políticos. A solução, salvo melhor opinião, passará pela celebração de um Pacto na Educação, após o necessário entendimento, de modo a operacionalizar uma justa reivindicação dos professores”, avança ao DN.

Sobre a greve de amanhã, Filinto Lima lamenta “o recurso desmedido à greve por parte de um sindicato de professores”, porque “banalizou o mais poderoso instrumento de luta que um trabalhador possui”. E, conta, “apesar da greve do dia 6 ter sido convocada por outra federação de sindicatos e ser por um dia”, não está tão seguro da adesão à mesma, embora haja “descontentamento da esmagadora maioria dos professores”.

O presidente da ANDAEP receia ainda que as promessas da oposição sejam “anúncios vapor que rapidamente caem no esquecimento, sem qualquer consequência prática”. Neste ponto, Filinto Lima é perentório: “a responsabilidade na resolução deste problema é coletiva e não deverá haver lugar a aproveitamentos políticos, muitas vezes com demagogia à mistura, que só agudiza o problema”.

Os constrangimentos nas escolas regressam na próxima segunda-feira, dia 9, com nova greve de pessoal não docente.

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